11.15.2010

Os Donos do Mundo

Pode-se verificar e fundar para qualquer um que saiba passear, a existência, com prova, de pequenos sofrimentos quotidianos que se debruçam para apanhar o leite mais barato na prateleira do mercado. Cada qual, uns pioram, outros melhoram, muito muda, um país muda, um povo muda, mas na sua essência, continua sempre a mesma coisa. Estamos atravessando um deserto, e nele, os mais inteligentes não se podem preservar luxo maior, do que o de participar indigentemente de um movimento coletivo e quixotesco, contra gigantes tão reais quanto invisíveis. Eis que se o mundo chorasse para rir amanhã qualquer sacrificio ainda valeria a pena, de ser terrível e sublime ao mesmo tempo. Mas qual sacrificio, qual que, de quem, para que? Fui ver o que se passa fora dos muros brancos com o cheiro invernoso da humidade lisboeta, e descobri que a vida é imoral, e que por consequência, somos mesmo livres - merda. Por isso, moças e rapazes que nasceram no deserto com armaduras de desdém, saibam, saibamos! que a felicidade está na medida do fazer e não da contemplação. Por hora, isto é verdade velha, mas vale a pena o esforço de lembrar, artisticamente, de certos ditos que arriscam de serem aniquilados numa época em que a tecnologia privilegia a comunicação e despreza o pensamento. Lutar por uma dialética capaz de quebrar tijolos com palavras foi ridiculamente corajoso; talvez tenha sido melhor do que não perder pelo simplesmente nada.E foi assim que, depois de tudo o que a ciências e as artes puderam proporcionar de mais apaixonante e assassino, entramos na segunda idade média que, com a aceleração crescente dos devires, deverá durar menos em tempo, porém, causar maior estrago no espirito. Na espera, pensemos com o corpo, isso ajuda. E um pouco de música também.