7.11.2009

Os dolares do G8

Os caridosos e carinhosos líderes mundiais decidiram destinar 20 mil milhões de dólares ao continente africano para o desenvolvimento e a luta contra a crise alimentar. Não é a primeira e nem será a ultima grande esmola, seguida de alertas contra a corrupção inerente dos governantes do continente mais pobre do mundo: "se vocês não souberem administrar a guita, a culpa é de vocês, nós fizemos a nossa parte".

Algumas pessoas reclamaram do título negativo deste blog... mas eu reivindico este pessimismo metodológico como sendo a melhor maneira para ver o que há por trás das mascaras carnavalescas que circulam fora de época. Um dia explicarei mais longamente sobre o sentido de "mundo louco e vida podre".

Não direi que se trata de hipocrisia.

Não direi que a soma de 20 mil milhões de dólares é ínfima, se comparada à que os próprios lideres alegres e serelepes deram de mão beijada aos bancos e especuladores que causaram esta última crise mundial.

Estes líderes que dizem não haver dinheiro do Estado para a segurança social em seus países, nem espaço para imigrantes cada vez mais ilegais, cada vez mais criminosos (vide a política italiana, laboratório do pior). Mas para armas, ha: rende e protege.

Não calcularei a seguinte soma: a de que o total do dinheiro (estimado pela ONU) que seria necessario para que todas as pessoas do planeta pudessem viver com um mínimo de dignidade - entende-se um simples tecto com condições higiénicas e o consumo mínimo de calorias para uma vida saudável - é igual ao valor total do que os países da Europa e os Estados Unidos consomem juntos em perfume.

Direi, sim, que se trata de ideologia. E esta ideologia pode ser lida nos discursos anti-capitalistas de Sarkozy; ou no estilo de vida de um Georges Soros (que especula metade do dia, e na outra dedica-se a acções humanitarias), ou de um Bill Gates, o maior filantropo da historia depois do rei belga Leopold II (que promoveu um verdadeiro holocausto exploratório no Congo, sua propriedade particular, enquanto fazia aqui e ali suas boas acções). Ela pode ser vista nos discursos de Davos, ou do prórpio G8, cada vez mais parecidos com os de Porto Alegre. Ela pode ser vista na prática da Starbucks, onde podemos "salvar uma criança" comprando lá um copo café por 4 euros. Café, este, plantado por camponeses guatemaltecos que não ganham um cêntimo de dólar por kilo de café colhido, e vivem com menos de um dólar por dia.

Se trata de ideologia justamente porque os próprio doadores realmente pensam que estão a cumprir actos heróicos. São boas intenções.

Porém, a condição de pedinte de esmolas não é louvável. Não se pode incentivar a doação para o alivio de consciências distantes. Talvez seria melhor reconfigurar o tabuleiro do comércio internacional. Pois a condição históricamente forçada de exportadores de matérias primas cultivadas em monoculturas, é a verdadeira sujeição que gera a mão da fome, extendida para receber essas mesmas esmolas.

Afinal, não é que os pobres coitados não sabem se virar sozinhos. É que não os deixam.

7.09.2009

BLU - MUTO

O que faz um certo grafiteiro de Buenos Aires com algumas tintas, uma maquina de filmar, bastante paciência e muito talento?