11.18.2010

Moro num beco

não importa qual. Na frente da minha casa, ou melhor, da minha janela, há uma senhora senil, e ao lado, uma outra senhora, um pouco menos senil, que geralmente muito brava sempre grita e esperneia contra o mundo. Seus lamentos de dor as vezes são cômicos, outras vezes são sublimes, mas as brigas com seu filho são mais tristes. Ouço tudo, claro, principalmente quando trabalho em casa, com a tal janela em frente, ouvindo tudo o que se passa no beco, ou seja, nada. Há cinco minutos atrás, eu sentado nesta mesma cadeira da qual não saí para escrever isto aqui, ouvi a tal senhora gritar: "então, o que faz o senhor parado aí no beco?". Ao que respondeu uma voz rouca que acusava uma idade certamente passada dos sessenta: "é que este beco é lindo. Lindo, não, é lindíssimo." A senhora, dos gritos loucos, passou o pano: "lindo? o senhor tinha que ver anos atrás, isto aqui é que era uma alegria, com churrasco, bailarico, festas e coisa tal, tudo decorado." Depois de um silêncio, imagino eu que com uma cara de interrogação do mesmo senhor, a senhora continuou: "Hoje, todos morreram, ta tudo morto, acabou". O senhor não respondeu.