12.18.2009

O terrorismo de Tieta

Esta é uma história, ou uma estória, até onde me lembro, que não vi mas ouvi com estes meus olhos de atenção, pelo conto da própria protagonista, brasileira e doutoranda em Coimbra, e que em 2004 morava em Madrid.

Desatenta aos rumores da suposta responsabilidade da organização terrorista basca pelos atentados de 11 de Março em Madrid, a moça, cujo nome pouparei até porque nem lembro agora, estava mais feliz do que preocupada numa viagem pelo metro madrilenho. Ora, não sabendo eu se ela estava embriagada, e pouco importa para tanta comoção, posso dizer o que sei do breve envolvimento da moça nas teias de um antiterrorismo cuja paranoia levaria, anos mais tarde e em circunstâncias menos alegres, ao assassinato de Jean Charles Menezes em Londres. Se a dita moça e o futuro baleado eram ambos brasileiros, isso se deve mais a uma coincidência do que a qualquer perseguição aos tupiniquins em diáspora pelo velho continente.

Conitnuando: como dizia, a moça estava alegre não sei de que nem porque ou por quem, o que lhe deu motivo para expressar em alta voz a música que cantarolava em sua cabeça. Ora, maior sorte a sua teria sido se a maldita música não fosse a Luz de Tieta, com um refrão que, entoado, pareceu suspeito aos ouvidos estúpidos de alguns polícias que estavam ao redor.

O resultado não foi outro, assim como eu soube pelo testemunho da própria moça alegre que fora imediatamente presa e levada para a esquadra, devendo prestar maiores esclarecimentos sobre seu envolvimento com a ETA!

Não fosse ela uma pessoa mui sensivel, talvez conseguisse explicar com calma e assim ter poupado momentos demorados de acusações policialescas. Porém nossa protagonista pranteava muito, e entre soluços dizia com algum sotaque "és solo una musica, una musica de tieta, gluc..."

Foi o que foi e prometo que juro com meus pés bem juntinhos que essa estória se não foi vivida pelo menos me foi contada, o que não tira nem um pouco da piada.

Por fim, acabou bem. Mas aviso aos navegantes: contenham as suas alegrias se não quiserem ver o sol nascer quadrado, nem pronunciem a palavra Bomba em aeroportos, mesmo se tiverem com vontade de comer bombas de chocolate ou qualquer outra dessas coisas caóticas que possam amedrontar nossos contemporâneos tão modernos.