12.30.2009

O Retorno de Persépolis



Não me surpreende o fato de a maioria dos blogues de esquerda apelarem ao apoio pela insurreição da juventude grega contra as tropas de choque, e darem muito pouca atenção, senão nenhuma, ao que se passa atualmente no Irã.

Mas o que se passa no Irã é para mim muito mais importante, e preocupante. O que se passa realmente lá é dificil de dizer. Em termos absolutos, muita gente está sendo presa, houveram mortes, mas surpeendentemente - ou não - o movimento de rebeldia contra um governo protofascista que obviamente corrompeu as eleições, não para de crescer.

É só graças às novas tecnologias de comunicação, como o twitter, youtube e etc, que podemos ter uma noção muito vaga da porradaria que está rolando solta nas ruas de Teerão. A revolta passou agora para a fase do engagemento sem retorno: não é só a figura de Amadinejah que está sendo posta em causa, mas a do próprio lider supremo da república islâmica, o Ayatolah Ali Khamenei. Haverá mais mortos, e o movimento que pede reformas crescerá.

Quanto aos espectadores, e eu me incluo, a tomada de posição não é fácil. Quero deixar claro que eu apoio o movimento. Mas é dificil saber do que dele virá, mesmo se uma vitoria vir a triunfar.

Eu não concordo com a retórica hegemónica da mídia internacional que veicula a imagem de um movimento que quer uma reforma no sentido da implantação de um regime parlamentar-democrático que significaria a liberdade.

Porém não compro também a idéia de uma esquerda paranóica que vê no movimento contestatário um fruto da manipulação capitalista ocidental, dando assim apoio a Amadinejah, por este ser um pilar do anti-imperialismo ao lado de Chavez, Morales, etc.

Tenho, de um lado, a esperança de que neste movimento haja um germe de resposta social que não corresponda a nenhum destes dois modelos citados acima, e que seja sim, uma espécie de terceira via possível de redenção para um povo que merece o reconhecimento de ser herdeiro de uma cultura  riquíssima, e pela qual toda a humanidade deve agradecer e conhecer. Mas por outro lado sinto o receio da incógnita, ou seja: como apoiar um movimento cujo futuro não consta em nenhum programa explícito? Lembro que grande parte das esquerdas ocidentais apoiou o levante iraniano contra o regime do Sha em 1979, o que me parece bem, mas nenhuma destas mesmas esquerdas poderia ter ficado contente com a consequente transformação do movimento na posterior teocracia que fora instalada.

Walter Benjamim disse que todo fascismo nasce de uma revolução derrotada. É disso que se trata o dilema do não-retormo em que se encontra o movimento: ou ganha ou morre. E se morrer, a autocracia só haverá de aumentar e algumas, se não muitas, cabeças rolarão. Tudo o que desejo para os revoltosos é o seguinte: muita coragem.