11.01.2009

Sandino Vive


A Frente Sandinista no poder é o governo de mais um país latino americano que recuperou a voz, depois dos silêncios ensurdecedores que a doutrina Monroe aplicou com mão de ferro no que era antes o jardim intocável do tio Sam. A Corte de Justiça Nicaraguense anulou o artigo constitucional que impedia o presidente de facto de concorrer à reeleição. O embaixador dos EUA declarou anti-democrática tal ação. E o governo sandinista respondeu chamando seus militantes pra gritarem "Sandino Vive" ao pé da embaixada estadunidense. A memória da violência dos Contras no país ainda está muito viva, e a eleição de Daniel Ortega foi uma das provas disto.


Os novos governos de esquerda latino-americanos são diferentes um do outro, mais do que quer fazer crer grande parte da imprensa (vide mídia brasileira). Segundo esta mesma mídia, tudo se trata de uma conspiração de republica bananeira comandada por Chavez (que para mim é alguém que entende de poder, uma espécie de Fidel montado no petróleo). Mas é preciso olhar com mais atenção para o que acontece na Bolívia, por exemplo, para perceber que, mais do que um pulo á esquerda, trata-se de um impulso de soberania. Movimentos sociais de base pedem uma indenização histórica pelos séculos de pilhagem económica, política e cultural na região. As pressões no continente continuam, e as tensões geopolíticas competem com o otimismo reinante na região - lembro o acordo entre Alvaro Uribe e Barack Obama para a implementação de bases mlitares estadunidenses na Colômbia. Minarão as FARC, e pressionarão os governos bolivarianos, enquanto estes se armam até os dentes comprando jatos, submarions e outros instrumentos caóticos das mãos de potências européias.


Que não há iminência de qualquer guerra, isto é evidente, ainda bem. Mas o que me interessa nisto tudo são três coisas. A primeira, é que os movimentos socias parecem estar tendo um papel significante nas ecolhas dos novos mandatários que subvertem a presença imperial dos EUA. Se Pepe Mujica, ex-guerilheiro tupamaro, vencer as eleições uruguaias no segundo turno, esse panorâma vai se ampliar. A segunda é que esses movimentos estão a exigir justiça para os que foram perseguidos durante as ditaduras militares no continente, período intrinsicamente ligado aos interesses dos EUA na região. E a terceira é que a maioria dos conflitos internos que se sucedem nesses países precedem-se de questões levantadas pela re-elegibilidade dos governantes. A demanda de prolongamento destes mandatos podem parecer populistas ou anti-democráticas. E as vezes o são. Por outro lado, ela comprova que as reformas políticas em vigor, por mais tênues que possam ser, estão sendo sentidas como eventos de valor histórico. Setores de classes populares que aprenderam a falar política, agora querem falar mais alto, e têm medo de voltar sob o jugo do mainstream neo-liberal.


Não se trata de revolução. Mas o cenário das Veias Abertas da América Latina está a mudar.