2.20.2011

A vaga revolucinária que está sacudindo o mundo arabe já deixa algumas pistas para uma melhor compreensão do que me parece uma onda de boas notícias, inch'allah. Não me refiro ao fato de que aqui no "ocidente" há regimes democráticos, e "lá" estão derrubando autocracias ulrapassadas pelas novas mentalidades locais (ênfase em novas!). Isto vale aqui, porém 68 foi onda que se espalhou tanto sob ditaduras quanto sob democracias burguesas. Por enquanto, algumas coisas que tenho por certas: a primeira, é que uma estabilidade econômica não garante por si só uma estabilidade política: um povo de barriga cheia que não tem dignidade um dia ataca o poder. A segunda é que as revoluções egípcia e tunisina não foram revoluções islâmicas ou islamistas, como referiram os primeiros reflexos europeus. Estes levantamentos têm mais a ver com as barricadas europeias de 1848 do que com Teerão de 1979! Profundamente secularizados, estes movimentos nasceram no seio de uma juventude precarizada que não se revê na revolução dos seus pais. Eis que a predisposição revolucionária ainda encontra nas fileiras juvenis as mais finas flores para o germinar de uma nova primavera dos povos. Primavera esta que não chegará na Europa, enquanto neste velho continente (ou melhor, neste continente de velhos), ainda se falar em "contágio" de revoltas, como se tal fosse doença. A arrogância europeia mostra apenas o quanto estas fronteiras cognitivas estão desenvolvidas, inclusive as da esquerda intelectual - que mais parece um alienígina ( de cabeça grande e corpo pequeno) com prisão de ventre. Mas ainda guardo uma esperança, pois como disse Confúcio, quem não arrota nem peida, está condenado à explosão.