10.04.2009

Confissões de um assassino

Já não a suportava mais. Faziam alguns dias, ou algumas noites, que meu sangue se aquecia a cada ve que ela se aproximava. E eu tremia. Foi minha obsessão. No começo, suas visitas esporádicas até me divertiam. Mas, meu Deus, o que aconteceu comigo, o que foi que ela fez, já não percebo mais nada. Mais nada. Comecei a me desconhecer. A loucura foi tanta que eu já não pregava o olho, sempre à sua espera. Aparecia sempre nos momemntos inesperados. E desaparecia. Foram momentos desesperados. Sim, tentei ficar passivo, mas seu toque era insuportável. Mas depois eu esperava por mais. Me ajudem. Havia qualquer coisa de predador no seu tocar da pele. Da minha pele! E eu sabia que eu não era o único, havia outros na vida dela, talvez foi isso que me deixou neste estado lastimavel, talvez foi isso. Vadia. Ela não ouvia meus prantos, não atendia meus lamentos, minhas preces de ateu silencioso. Era desdém. Ou era o calor, do verão, já não sei. Delírios, talvez. Suei frio por causa dela. Tive insónias. Me batí. Já não podia mais aguentar, mesmo sabendo que ela não ia me deixar. Infiel. Maldita. Confesso que tive pensamentos horríveis, fiz uma coisa horrível. Onde estou com a cabeça? Que medo, a primeira vez que cogitei o assassinato, não me lembro quando foi. Alguma coisa formou a idéia, mas eu juro que não foi nada planejado. Foi instinto, foi corporal. Uma força se apossou de mim, não podia mais me controlar, eu juro. Juro! Ai meu Deus. Preciso desabafar, o que fiz me atormenta. Mas não, não me arrependo! Não, hah! Podem dizer o que quiserem, podem me prender, me bater, eu assumo minhas responsabilidades. Sim, eu sujei minhas mãos com o sangue sujo dela! Querem saber, ela mereceu! Ah, como foi bom! Não, eu não sou maluco, não me venham com esta! Desculpem, estou afobado, fico nervoso quando penso nisso, afinal eu matei. Não, eu não sou psicopata. Os psicopatas agem com premeditação, eu já nem podia meditar, quanto menos pré-meditar. Foi meu coração. Agi de modo brusco, sim, sem pensar. Meu coração batia forte. Eu tinha percebido sua presença inconfundível, o barulho que fazia quando entrava em casa só pra me irritar. Desta vez, não me revirei para acolhê-la. Esperei de olhos fechados que ela se aproximasse para ter comigo na cama. Tive que disfarçar meus suspiros impacientes, ela estava demorando mais do que o normal, não sei se passava antes pela casa de banho, pela cozinha, não sei. Foi então que ela veio. Veio para morrer. Todas as vezes, ao entrar no quarto (depois de ter estado fora, horas da madrugada, não sei nem com quem!), ela me tocava em zona sensível atrás da minha orelha para anunciar sua presença. Senti seus movimentos em volta do meu corpo. Era a hora. Foi um segundo, ou menos? Assim que senti seu toque, golpeei-a com toda minha força. Creio que perdi a consciência naquele instante. Por isso não sei. Quando recuperei os sentidos, já não a ouvia mais. Tive de verificar que ela estava mesmo morta, e que o pouco de sangue espalhado não deixaria suspeitas. Ela estava morta. Soltei um último suspíro, aliviado, e dormí. Da próxima vez, compro um desses venenos para se por na tomada. Porque é dificil matar uma melga, ainda mais com um tapa na própria cara.