10.30.2008

RESPOSTA AO JUCA



“Cara, larga esse negócio de antropologia e vai ser escritor. Vai escrever livors.”



Se um dia eu puder ganhar dinheiro apenas escrevendo o que me apetece, além de já estar feliz, não vou querer mais do que o dinheiro suficiente para uma casa e minha família, porque sempre quis ter filhos.

Se um dia eu ganhar mais dinheiro ainda, comprarei uma casa para minha mãe.

Se eu ganhar mais, meus amigos beneficiarão, terão empregos, casas, e quem sabe, um pouco mais de luxúria.

Se eu ficar ainda mais rico, comprarei casas para as mães do mundo louco em que vivemos.

Não comprarei iates.

Não quero flores compradas

só quero paz.

E Igualdade.

Se eu ganhar mais dinheiro ainda, vai ter muita festa. Reveillons fora de época, foguetórios sem vizinhos que se matam.

Se eu ganhar mais dinheiro ainda, comprarei um submarino. Para a minha namorada.

Ela vai desativar. Primeiro as bombas, depois, o submarino, amarelo.

Se eu ganhar mais dinheiro, vou comprar terras, dar aos Sem, e entregar territórios. Aos índios.

Abrirei rádios.

Sou utopista, maconheiro, viado ou ladrão. Mas não sou fundamentalista.

Se eu ganhar mais dinheiro ainda, poucas cabeças vão rolar. Não mais de pretos, nem de Indios. Mas de poucos nobres, que não desistirão, da Pretensão.

Mas não vou financiar nenhuma revolução; ela não precisará

Pois profetas vão brotar.
Serão chineses sem crianças a bordar.

E vou comprar teto solar.

Se eu ganhar mais dinheiro,
filhos de Ghandi brincarão
o dia inteiro


Se eu ganhar mais dinheiro
Os Loucos hão de se soltar.

Praças Vermelhas vão durar,
Mas Verdes:
verde-melancia.

Se eu ganhar mais, vou comprar redes, para pescar, e para se deitar.

E guitarras vão tocar. Nas mãos de sertanejos, que aqui vão rebolar.

Tiro a lua dos americanos.

Se mais dinheiro eu ganhar, muita gente vai nadar.
E eu vou me sujar. Com gozo.

Comprarei para a Komuna, o Castelo de São Jorge.

E se eu ganhar mais dinheiro, meu amigo, para o alto eu vou jogar.

Assim, se algum sobrar, eu vou queimar.


E pra você, deixo Pasargada.